Aquele trabalho pode ser considerado cômico?

Parece que vem com uma plaquinha de platéia, que no lugar de APLAUSOS diz GARGALHE! Concorda?

De início é possível ver graça até na morte de um ente querido. Depende do estado de espírito do observador e, talvez da situação do morto. Mas posso dizer que sempre tive uma grande admiração no trabalho de ator, principalmente dos comediantes. É uma frustração assumida em algumas de minhas ações, já que não tenho talento para atuar. Fico hipnotizado com os comediantes e perplexo com o dom de improvisar, de saber o tempo certo de respirar, a entonação para cada frase, as expressões faciais... Enfim, acho que o comediante é melhor que o ator. Eles são realmente mágicos, capazes de incorporar uma entidade espiritual de maneira a fazer todos acreditarem na palhaçada.

O bom comediante convence a verdade mais facilmente que o ator num drama, mesmo trágico. Questionamos a cor do sangue, como é perfeita a maquilagem, o truque nos golpes, a técnica do choro... Para a risada, não... Vem espontaneamente, com um simples olhar ou uma simples pausa subtextual.

Conte-nos sobre o “rei” e sua vida na “côrte”.

Aproveitei idéias criadas anteriormente com fins “meramente ilustrativo”, pensando sempre como um devaneio qualquer, uma obsessão gostosa, uma coincidência aproveitável... Então, tinha alguns desenhos/ projetos para galerias, museus de arte, bienais... E numa dessas investigações houve o click. Pesquisava sobre os custos de uma corte... modesta. E tinha como custear, então...


E a rotina na côrte?

Uma vida comum onde pessoas estão em função de outras de maneira bem estabelecida.


O Rei estabelece?

Sim, e outros também como os valetes, ou outro que sabe o que está falando. Se o mancebo diz que é melhor fazer pães pela manhã, fica estabelecido então o período para fazer pães, por exemplo.
Os problemas domésticos são sempre os mesmos e comuns a qualquer homem.

Você já pensou ou pensa em escrever um livro, uma autobiografia?

Essa história é muito intrigante pra mim. Eu sempre gostei muito de assistir entrevistas, bate-papo e tal... Acho que são momentos em que o entrevistado se desarma por ser surpreendido com certas perguntas, ou perguntas incertas. Diferente de uma análise profissional, em que a própria pessoa faz o caminho de investigação.

E quando a entrevista é com um escritor, principalmente sobre autobiografias, escuto sempre exclamações do tipo: “olha, não tinha pensado nisso...”, “isso dá um segundo livro, uma continuação”, “isso eu não pesquisei, mas é uma boa idéia”. Nesses momentos fica claro para mim, que o entrevistado fica meio angustiado, ou decepcionado, frustrado em não ter pensado naquela questão antes. Enxergo-o pensando, imaginando um livro diferente.

Então eu, que sempre escrevi coisas, projetos, protótipos, argumentos para serem desenvolvidos depois, inclusive autobiografia, e quis uma. O escritor biógrafo geralmente contrata um pesquisador que faz seus questionamentos ou ele mesmo desenha estas linhas de perguntas, para montar o conteúdo do livro. Prefiro aguardar mais entrevistas, sem a encomenda ou o vínculo de contrato comigo, mas vinda de forma espontânea, para então me certificar dos questionamentos realmente necessários ou, pelo menos, onde está a curiosidade popular em relação a minha pessoa ou à obra.

Bruno & Marrone, Vítor & Leo ou Jorge & Mateus?

Pulo essa...


Você também acha a TV uma porcaria?

Não simpatizo muito com a idéia em “institucionalizar” a TV. Se a emissão de imagens fosse colocada no mercado como foi colocada a Internet, hoje teríamos uma TV diferente, talvez... Sei lá, a pessoa compraria TVs, mas também poderia comprar kits de vídeo conferência, emissão... A idéia em colocar um responsável pela concessão dos canais, talvez faz gerar esta insatisfação – como se fosse um filho reclamando do pai provedor: “esse canal é uma bosta... só tem baixaria na TV... depois da meia noite só tem pastor de igreja... só tem apresentadora loira...”, tudo porque o filho não tem a total liberdade, no caso dos canais abertos/ públicos (e até dos pagos).

Acho que a TV é um aparelho eletrônico que transmite sinal de TV (imagem e som) – isso não é porcaria. Usam o entretenimento em favor da publicidade comercial e política, como já faziam antes com outros “canais” (teatro, cinema, jornal...), e acho legítimo e oportuno (agora, internet). E no caso de rejeição, o conteúdo transmitido deveria ser censurado pelo telespectador (mudando de canal, bloqueando, desligando a TV) e não pela “concessão” ou outra orientação política. Na democracia, deveria acontecer assim.

Por que todo o mistério de ter que ser só entre os dois (o entrevistado e você)? No quarto? Acontecia algo íntimo?

Faço o mesmo em todos os meus trabalhos. Só permito a presença de quem está fazendo alguma coisa em função do trabalho. Durante a gravação de uma cena pornô, por exemplo, só fica no set quem filma e quem é filmado.

A idéia de fazer as entrevistas entre quatro paredes vem de um nome de um blog antigo que tratava de coisas íntimas. Nas entrevistas, o intuito é ver a intimidade e fazer perguntas relacionadas com a realidade do famoso. Quando ficamos sozinhos, “entre quatro paredes”, você tem o conforto de omitir o que não quer compartilhar com outros (que não estiveram ali). Mostro alguns lances do quarto, das coisas do famoso, tudo só detalhes fotográficos. O forte mesmo é o que ele diz, afinal são entrevistas.


Então o “algo íntimo” se inclui nas coisas omitidas?

Se ocorreu algo íntimo entre mim e eles, entrará sim nas coisas omitidas, por não ser um trabalho que falava de mim, e sim dos entrevistados. Aí seria um outro trabalho, um “top secret”, por exemplo, RSS.